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A importância do QI para o aluno de Tai Chi Chuan


O Qi representa a unidade tão almejada em todo o pensamento chinês, porque por ser energia, abarca o mental e o físico, e estabelece na medicina além de uma fisiologia corporal, uma fisiologia mental e até emocional, e que, por consequência, promove uma visão espiritual do corpo.”
Anne Cheng- A história do pensamento chinês.

Segundo o neoconfucionista Zhang Zhai

Zhang Zai (1020-1078 dC):
 “ Aquilo que se dispersa, se diferencia e pode assumir figura visível é energia vital (Qi ); aquilo que é puro, penetra em toda parte não pode assumir forma visível é potencia espiritual (Shen).
O Vazio supremo não tem formas: é a constituição original do Qi. A condensação e dissolução do Qi são formas temporárias devidas às mudanças e transformações. O Vazio supremo não pode ser senão Qi, o Qi não pode senão condensar-se para formar as dez mil coisas, as dez mil coisas não podem senão dissolver-se para retornar ao Vazio supremo.
A condensação e a dissolução do Qi são para o Vazio supremo aquilo que o gelo e o derretimento são para a água. Compreender que o Vazio supremo é o Qi é compreender que não existe o não-há.
O há e o não-há são aspectos do Qi concentrado e dispersos. O Qi é a realidade última que permeia o manifesto e o imanifesto. ( AC).
Por isso o aluno de Taiji deve aguçar sua sensibilidade para a percepção do Qi e principalmente a alternância entre Yin/Yang no Qi.
A arte do Taijiquan ,não resulta apenas uma arte marcial. A arte do taiji nos conecta com realidades  extremamente sutis, mas existentes. Desde intuições, emoções, sonhos, ao raciocínio lógico, linear, no taiji a necessidade do balanço entre Yin/ Yang de todas as nossas facetas mentais é um processo constante. Assim como um balanceamento nos aspectos físicos, o refinar da percepção é uma constante no Taiji. Dos grandes músculos, aos órgãos, aos tecidos, aos fluidos, ao sangue, do grande ao pequeno, das dez mil coisas para o princípio único, o caminho é o mesmo na arte do Taijiquan ; do grande círculo para o círculo mediano, para o círculo pequeno, para o Wu círculo, não círculo, ou infinito latente círculo.
O Qi, neste caso permeia o material, o plano de estratégia ,e a avaliação deste processo.
 O princípio é o Qi. No Taijiquan e na vida.




Coordenação ABEC

Associação Brasileira Estilo Chen de Tai Ji




         Porque começar o ano fazendo Tai Chi. Quando começamos um novo ano, um novo ciclo, nos percebemos num ponto axial, ou seja, no ponto entre o passado e o futuro. Esta situação, apesar de ser uma realidade constante, somente é percebida em sua plenitude em determinados momentos, alguns extremamente intensos como chegar perto da morte, sobreviver a um fato grave. Outros menos intensos fisicamente do que psicologicamente, passagens de vida importantes, como casamentos, separações, perdas de entes queridos,  nascimento de filhos. O começo do ano é uma destas passagens, a mais leve de todas talvez, porque ninguém é obrigado a se comprometer com esta data em especial. Mas seu valor simbólico no inconsciente coletivo ainda é forte. Este ponto, da passagem de ano, que para alguns dura minutos e par outros duram semanas , e até meses, para todos ele pede a reflexão, o que foi incorreto no passado, o que pode ser melhorado no futuro.   



          Na perspectiva do Taiji (Tai Chi), onde erramos no passado, deve ser analisado em termos de desequilíbrio entre Yin / Yang . Desta analise é que realmente determina o sucesso futuro. Pois todos os nossos votos, desde saúde, paz, harmonia, sucesso, e mesmo prosperidade financeira, dependem de mantermos um equilíbrio dinâmico entre Yin e Yang em nossas vidas. Este equilíbrio entre Yin/Yang em todos os aspectos depende de uma escuta, uma atenção sutil, quase previsão das tendências que começam ainda a germinar, somada a constatação dos desequilíbrios já existentes. E o ponto de observação ideal para esta escuta, é este momento, este eixo em torno do qual yin e yang giram, e trocam de posição transformando-se um no outro. Este eixo chama-se Taiji (Tai Chi). Este ponto de mutação onde o excesso de Yang gera o Yin e vice-versa, esta linha sinuosa e dinâmica entre as duas tendências, é o supremo eixo, representado na China pela viga mestra do telhado de uma casa. Onde o sol ao meio dia deixa de fazer sombra em uma das abas par gerar a sombra na outra aba. 


 


             Na passagem do ano, nos encontramos neste eixo. Estamos sem saber fazendo Taiji, tentamos racionalmente, sentimentalmente, espiritualmente acertar o rumo para a próxima etapa, o próximo ano. Um momento de reflexão se impõe. A escuta tem de ser clara. Sem esta escuta com poderemos perceber em que realmente erramos no passado? Sem saber no que erramos, como abandonar os velhos maus hábitos? Sem abandonar os velhos hábitos, como progredir? Ao progredir que rumo tomar? O Taijiquan é a arte de escutar e se adaptar à tendência energética e à sua pulsação entre Yin/Yang. Não é apenas um exercício light para idosos ou pessoas “zen”. Não é apenas uma arte marcial que se tornou uma terapia holística. O Taijiquan é tudo isto, mas principalmente é uma arte de estratégia para lidarmos com o stress que nos corrói a cada dia.

         Por isso é uma boa ideia começar o ano fazendo Taijiquan. Esta arte nos permite através da fluidez de seu gesto, da calma do seu ritmo lento escutar dentro de nós mesmos. É a arte de se adaptar sem engolir sapo, de ceder sem perder, de optar pela estratégia yin para responder ao Yang que este ano trará. Tudo que começa é Yang por natureza. A resposta natural sempre é yang. Alguém nos empurra, empurramos de volta. É instinto de sobrevivência.

         Daí a importância de aprender a praticar Taiji no dia a dia. A calma de escutar é Yin por excelência. Ela é que nos permite escutar as ondas do tempo, para podermos surfá-las no momento exato, sem ser atropelados ou deixados para trás. Isto é adaptar. Isto é a chance de progredir em harmonia com o tempo.   

     O universo, segundo os mestres desta arte, é um macro Taiji, o ser humano é um micro Taiji. Que pode fazer o homem de discernimento senão praticar a arte do eixo universal ?

Feliz 2014

Estevam Ribeiro